Amarás teu próximo com a ti mesmo

           Mateus 22,39

       Essa frase consta também no Antigo Testamento 9Lv 19,18).
    Para responder a uma pergunta capciosa, Jesus se insere na grande tradição profética e rabínica que indagava sobre o princípio unificador da Torá, ou seja, do ensinamento de Deus contido na Bíblia. Um contemporâneo de Jesus, Rabbi Hillel, tinha dito: "Não faça com seu próximo aquilo que detestaria fosse feito a você, nisto se resume toda a lei. O resto é a penas interpretação" (Shabbat 31a).
    Para os mestres do judaísmo, o amor ao próximo provém do amor a Deus, que criou o homem à sua imagem e semelhança - por essa razão, não se pode amar a Deus sem amar a sua criatura, esses é o verdadeiro motivo do amor ao próximo e é "um princípio grande e geral na lei" (Rabbi Akiba), comentários rabínicos a Lv 19,18).
    Jesus reforça esse princípio e acrescenta que o mandamento de amar a Deus com todo o coração, com toda a mente e com toda a alma. Ao afirmar que existe uma relação de semelhança entre os dois mandamento, Jesus os liga definitivamente, o que será feito tambem por toda tradição cristã, como o  apóstolo João confirma de modo lapidar: "Quem não ama seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê". (1Jo 4,20).
                                                                   "Amarás teu próximo como a ti mesmo"


    Próximo - o Evangelho inteiro afirma isso claramente - é todo ser humano, homem ou mulher, amigo ou inimigo, ao qual se deve respeito, consideração, apreço. O amor ao próximo é universal e pessoal ao mesmo tempo. Abraça toda a humanidade e se concretiza "naquele que está perto de você".
    Mas, quem pode nos dar um coração tão grande, quem pode suscitar em nós uma benevolência tão grande, que nos faça sentir "próximos" até mesmo aqueles que nos são mais estranhos, que nos faça superar o amor a nós mesmos, para vermos a nós mesmos nos outros? É um dom de Deus, ou melhor, é o próprio amor de Deus que "foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5,5).
    Logo, não se trata de um amor comum, não é simples amizade, nem apenas filantropia, mas é aquele amor que foi derramado em nossos corações já no batismo, aquele amor que e a vida do próprio Deus, da Santíssima Trindade, e do qual podemos participar.
    O amor, portanto, é tudo, mas, para podermos vivê-lo bem é necessário conhecermos as suas qualidades, que vê à tona no Evangelho  e na Sagrada Escrituara em geral e que acreditamos poder sintetizar em alguns aspectos fundamentais.
    Antes de tudo, Jesus, que morreu por todos, amando a todos, ensina-nos que o verdadeiro amor deve ser dirigido a todos. Não como o amor que muitas vezes vivemos, meramente humano, que tem um raio de alcance restrito; família, os amigos, os vizinho...O amor verdadeiro que Jesus pede não admite discriminações, não distinção entre pessoa simpática e a antipática, para esse amor não existe o bonito e o feio, o adulto e a criança, o conterrâneo e o estrangeiro, o irmão da própria Igreja ou de outra, da própria religião ou de outra. Esse amor ama a todos. É isso que devemos fazer: amar a todos.
    E ainda, o amor verdadeiro é o primeiro a amar, não espera ser amado, com geral acontece com o amor humano, que nos faz amar aqueles que nos amam. Não, o amor verdadeiro toma a iniciativa, como fez o Pai quando, sendo nós ainda pecadores - e, portanto, quando ainda não amávamos - mandou o Filho para nos salvar.
    Sendo assim, é preciso amar a todos e tomar a iniciativa no amor.
    O amor verdadeiro reconhece também a presença de Jesus em cada próximo. No juízo final, Jesus no dirá: "Foi a mim que o fizestes' (cf Mt 25,40). Isso vale para o bem que fazemos e, infelizmente, também para o mal.
    O amor verdadeiro ama o amigo, mas também o inimigo; faz-lhe o bem, reza por ele.
    Jesus deseja também que o amor, trazido por Ele à terra, se torne recíproco: que um ame o outro e vice-versa, de modo que se alcance a unidade.
    
Chiara Lubich (Publicada em outubro de 1999.

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